terça-feira, 17 de novembro de 2009

ONDE ESTÃO OS COSTELETAS ?



ONDE ESTÃO OS COSTELETAS ?

FUI À PROCURA DOS COSTELETAS.

O comboio estava tabelado para as às 6 e 47 na estação de Campanhã, PORTO e chegava a FARO perto da uma da tarde.

Era mesmo à tabela...

O preço do bilhete é bom para reformados. Só o facto de ter a possibilidade de ir ter com o TECA à praça e perguntar pelo Sampas, valia o preço de três ou quatro bilhetes.

Era a saudade a funcionar.

Conviver um pouco com o velho Teca, que alinhava com a estudantada e vendia marisco na praça, era recordar velhos tempos..

Óptimo. Comecei logo a pensar como seria a minha viagem até à cidade dos meus encantos.

Sim, porque FARO é e foi importante na minha vida. É a cidade da minha juventude. Foi ali que andei à porrada com os putos da minha idade, foi nos bailes da cidade que apanhei as tampas das moças, foi aqui que vi um preto pela primeira vez.... .

Vou telefonar ao Jaime Cabrita e lá vamos nós. Era bom se ele pudesse ir. Mas o Jaime não pôde ir. Fica para a próxima...

Mas eu fui

Eram treze horas quando saí da estação. E logo ali começaram as recordações. Fiquei parado a olhar a rua em frente, a Ventura Coelho, onde eu estive hospedado no nº4, na casa da mãe da Natércia, costeleta, que ao tempo namorava com o Xico ZAMBUJAL, igualmente costeleta mas já aluno do Magistério Primário.

E aí, à porta, recordaria com o olhar distante, no horizonte e no tempo, aquela cena da carta que eu fui incumbido de levar ao correio, ali perto, na estação, e deu-me aquela pancada, abro-te não te abro e abri, tinha uma nota de cinquenta escudos lá dentro, e agora, vais .. ficas.... vens... que tal... e tudo voltou à normalidade, fechei a carta de novo e a nota lá seguiu o seu destino....

Decisão complicada, essa.. mas certa.

Um homem, quando dispõe de algum tempo disponível para utilizar e já muito pouco para viver, pensa nestas coisas e dá-lhe a nostalgia..... e recorda toda a macacada que fez..

E felizes daqueles que dispuseram dessa oportunidade e de tempo para recordar...

Ainda no Largo da estação, olho enviesado para a esquerda e lá está o café, que penso ser do pai do André, um puto giro e amigalhaço do Liceu que vim a saber não me lembro como, foi comissário de bordo na TAP.

Éramos eu, o André e o Zézinho de Almancil mais o Pacheco de Lagos. E um deles dizia que queria ser médico.. para medir a tensão arterial às mulheres. Lembrei-me disso e fui ao café e perguntei pelo André, mas ninguém me soube dizer nada...

Saí do café e dirigia-me para a zona do jardim da doca quando na rua a a seguir à Ventura Coelho, lembrei-me que era ali que se situava o café do Alberto, irmão do André que jogou à bola na Académica e no Belenenses e foi meu colega no Magistério.

Ainda perguntei no café lá existente pelo Alberto.. nada ... não há cá Alberto nenhum. Ao sair, à minha direita, lá em baixo, fica a loja do Prof. Renato, aquele que tinha a mota do Vinhas, ainda lhe dou um assobio, mas nada de Renato.

Vou mas é ver se o Zacarias está na tasca. O Zacarias era um preto que estava empregado numa tasca de esquina, que fica à esquerda, quando se sai da estação para o Hotel Eva.

E nem tasca nem Zacarias. Ainda fui à oficina que fica ao lado, disse boa tarde e perguntei pelo velho Zac.. Que não sabiam nada disso ... que eram alentejanos recém chegados à cidade e nunca viram por ali nenhum preto nem nenhum Zacarias. .

Está tudo mudado... pensei.

E se fosse à praça ?..

Era tarde. Iria no outro dia de manhã até à praça que é o lugar ideal para ver a malta, os montanheiros estão lá todos, vão vender as laranjas e as couves, tudo... é lá que se sabe quem morreu, quem casou , quem nasceu, quem está no hospital a bater as botas... tudo... e o resto sabe-se quando entrevistarmos o TECA, que é boa fonte, porque está lia o dia inteiro.

Damos uma volta por ali e havemos de encontrar alguém, talvez o Rabeca, ilustre empresário da área de prestação de serviços em contabilidade, talvez o Brazinho, contabilista e advogado, estes dois tipos têm uma característica própria, única talvez, nunca gostaram de Lisboa, frequentaram ambos o ICL na rua das Chagas ao Largo de Camões e mal as aulas acabavam, apanhavam logo o rápido às cinco da tarde e davam às de Vila Diogo, Faro com eles, Lisboa jamais..

O Jorge Cachaço devia andar por ali também e se sim tínhamos a manhã ganha. Queremos vê-los todos, o Xico Machado, o Bernardo Estanco, o Zé Elias, o Zé Emiliano, o Ferro e o Salsinha, o Matos Cartuxo, o Figueiredo, o conde de Salir, o Zé Vitorino Neves do Arco, o Zeca Bastos o Jorge Tavares, o Carlos Alberto Vieguinhas, o Alex e o Verdelhão, o Vergílio Coelho, o Júlio Piloto e o Queixinho, o Reinaldo Tarreta a quem perguntaria pelo mano Diogo e pela Meninha, o Zacarias de Pechão, o Ze Maganão e o João Vitorino Bica e muitos.. muitos outros..

Foi só matar.. matar ... saudades e, por fim, lá para as tantas diria como diz o escritor Gabriel Garcia Marquez lá na sua obra... até amanhã, camaradas...

Texto de
João Brito Sousa

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