sexta-feira, 20 de novembro de 2009

RELEMBRANDO GRANDES FIGURAS ALGARVIAS



RELEMBRANDO GRANDES FIGURAS ALGARVIAS


ANTÓNIO ALEIXO

De Alfredo Mingau

Introdução

Sei que pareço um ladrão…
Mas há muitos que eu conheço
Que, sem parecer o que são,
São aquilo que eu pareço.

Era eu “Moce”, vivia em Loulé com os meus pais, quando conheci o António Aleixo.
Brincava naquela azinhaga, junto das bicas, com o filho do poeta que, na altura, trabalhava numa olaria ali existente. Recordo o António Aleixo por me ter feito um mealheiro de barro, tendo assistido à sua confecção na roda do oleiro.
E recordo, também, ter ido com o filho ao cinema, lá para cima para a geral, para assistirmos à entrega do 1º prémio, com que foi agraciado pela poesia que concorreu. Não me recordo se eram quadras.
O Júri, quando o viu entrar no palco, um deles murmurou “parece um ladrão”. E ele ouviu.
Quando lhe entregaram o prémio, perguntaram-lhe se queria dizer algumas palavras, tendo respondido que não sabia fazer discursos, mas que o poderia fazer em verso. Tendo-lhe dito que sim e, porque tinha a grande facultade de “repentista” disse, olhando para a mesa do Júri, a quadra que está no início desta introdução.

O Poeta

António Aleixo, de seu nome António Fernandes Aleixo, nasce em Vila Real de Santo António no dia 18 de Fevereiro de 1899.
Teve vários empregos, a que poderemos chamar de “funções”, tais como, “guardador de cabras”, “cantor de feira em feira”, “soldado”, “polícia”, “tecelão”, “poeta cauteleiro” e trabalhou em França como “servente de pedreiro”

Fui polícia, fui soldado,
Estive fora da nação;
Vendo jogo, guardo gado.
Só me falta ser ladrão.

O Professor Dr Joaquim de Magalhães, que leccionou no Liceu João de Deus em Faro, deu-lhe uma grande ajuda compilando e editando a sua poesia.
O poeta ria-se e dizia:

Não há nenhum milionário
Que seja feliz como eu;
Tenho como secretário
um professor do liceu.

Em sua homenagem, os louletanos, erigiram-lhe um monumento frente ao “Café Calcinha”, que o poeta frequentava, em Loulé. Nesta cidade Algarvia existe a “Fundação António Aleixo”, com o Estatuto de Utilidade Pública, que lhe permite conceder bolsas de estudo aos mais carenciados. O antigo liceu de Portimão tem o seu nome. Em Paço D’Arcos existe uma rua com nome do poeta, em Camarate e em Albufeira. Em S. Paulo, no Brasil, a Escola Poeta António Aleixo no Liceu Católico.
Seria um “espólio Nacional” bastante importante se toda a sua poesia tivesse sido escrita. António Aleixo era considerado um grande “repentista”, não tomando nota das suas criações. A maior parte ficou no esquecimento.
Apesar de analfabeto sabia ler e escrever, mas mal.
Algumas das sua obras, escritas com o arranjo do Professor Joaquim de Magalhães:
- “Este Livro que vos deixo”
- “O Auto do Curandeiro”:
- “O Auto da Vida e da Morte”;
- “O Auto do Ti Jaquim” (incompleto):
- “Inéditos”
Não podemos esquecer nas suas publicações, a grande ajuda do Artista Plástico António Santos, que assinava as suas obras com o pseudónimo de “Tóssan”.
José Rosa Madeira, que também o protegeu contribuindo no lançamento do seu primeiro livro “Quando Começo a Cantar”, obra editada pelo Circulo Cultural do Algarve em 1943.
Como associado do Circulo Cultural do Algarve, que frequentava todas as noites, tive o grato prazer de ter lido esta obra.
A crítica considera António Aleixo um dos poetas Algarvios com maior relevo.
No dia 16 de Novembro de 1949, em Loulé, António Aleixo partiu para a sua última viagem. Faleceu, com a mesma doença que vitimou uma das suas filhas.

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