sexta-feira, 20 de novembro de 2009

PEPINOS E “BECHOCOS"

PEPINOS E “BECHOCOS"

De Alfredo Mingau


Naquele dia Francelina pensou fazer aquela deliciosa sopa de feijão com massa e alguma couve lombarda. O desejo aliado à saudade de se deliciar com a saborosa sopa que a saudosa mãe fazia, e lhe ensinara,, levaram-na, com certo custo, a dirigir-se à dispensa. “Que maçada, como é que eu deixei acabar o feijão”. O desejo foi mais forte que a comichão e irritação que a apoquentavam na anca. Nem com pomada os furúnculos desapareciam. E a Francelina, com certo custo, vestiu o casaco, pegou na mala e saiu de casa.
O senhor António, sentado por detrás do balcão da sua loja, ali para os lados do Alto de Rodes, pensava no negócio que ia mau, e que, a falta de clientela, era sinónimo de crise que tardava a normalizar.
A loja do senhor António englobava três vertentes, taberna, mercearia e lugar de frutos e legumes.
Olhando para a rua, pela porta da mercearia, vê entrar Francelina com certa dificuldade no andar.
- Bom dia senhor António.
- Bom dia Francelina, que bons ventos te trazem?
- Ai, lamentou-se a Francelina, não me fale em bons ventos que eu estou muito mal.
Nisto e, de rompante, a conversa é interrompida pela entrada de duas “malucas” que se dirigem para o lugar dos legumes expostos, cochicham, e diz a mais gorda olhando para o senhor António:
- Senhor “Toino”, queríamos dois pepinos.
O senhor António, aproximando-se e percebendo o desejo delas, com ar muito sério, respondeu
- Só vendo pepinos ao quilo.
- E quantos pepinos tem um quilo senhor “Toino”?
- Depende do tamanho, são mais que dois, no mínimo uns três.
- E agora, “gorda”, o que é que fazemos, exclama a mais magra.
A mais gorda olha para os pepinos, pensa, e responde com um sorriso.
-Utilizamos dois pepinos e fazemos uma salada do restante. Pese os pepinos senhor “Toino”
O senhor António sorriu, pesou os pepinos, meteu num saco, recebeu o dinheiro da venda e ficou olhando-as sorridentes a dirigirem-se para a saída.
Regressando à mercearia onde a D. Francelina se encontrava sentada num saco de cevada exclamou:
- Então Francelina, apareces a mancar, o que é que te doi?
- Ora, tenho uns “bechocos” na nádega que me dói e dão comichão.
- Mostra lá Francelina, talvez eu possa ajudar.
- Não queria mais nada, mostrar-lhe o meu rabo?
- Só te queria ajudar, o que é que te trás por cá?
- Pensei fazer uma sopa à antiga, quero um quilo de feijão catarino e uma couve lombarda.
O senhor António aviou o feijão e a couve, entregou à Francelina que, levantando-se com certo custo, se dirigiu para saída enquanto dizia:
- Ponha na minha conta senhor António e tenha um bom dia.
- Está bem Francelina, vai em paz com as melhoras.
E, sentando-se, atrás do balcão, circunscrevendo com os olhos pela loja, deserta de clientes, pensou “isto é que vai uma crise

Nenhum comentário:

Postar um comentário