sexta-feira, 20 de novembro de 2009

FARO


FARO


Estátua de D. Afonso III



“A CIDADE EXTERIOR”




De Alfredo Mingau




Nota de Abertura pelo autor


Facto Típico para a Época




Agora, que estamos quase no S. Martinho, recordo…, quem não se recorda de, “Naquele Tempo”, em que a “malta” juntava-se em grupo, arranjava um caixote, colocava dois paus compridos e pregava-os por baixo e estava feito o “andor”. Sentava-se lá dentro o mais levezinho, com a cara pintada, um grande bigode, uma chucha na boca, uma vela acesa dentro do caixote e… lá ia a malta com o andor aos ombros, a bater às portas e, até, entrar pelo café Aliança a cantar:


S. Martinho lapa


Vamos ao larapa,


S. Martinho vinho,


Vamos ao copinho


E a “Malta” recebia os donativos que eram, depois, divididos pelo grupo.




Exterior da “Cidade Velha” – Algumas Figuras Típicas




Falámos da “Cidade Velha – Vila-a-Dentro, mas fica um “vazio” se não nos debruçarmos sobre o “exterior, fazendo um circuito pedonal recordando, também, a cidade junto ao exterior da muralha, lançando a vista um pouco mais além.


Saímos pela “Porta Nova”, “Porta do Mar” como é mais conhecida, e apreciamos em frente, a Ria Formosa com os navios da Marinha, a “Bicuda” e a “Azevia” fundeados nas quatro águas. Aqui a passagem de nível com o letreiro “PARE, ESCUTE, OLHE” e, mais à frente a ponte dos barcos, com alguns a descarregar o pescado, vendo-se ancorados os de passageiros que faziam a carreira para a Praia de Faro (Ilha de Faro como era e é mais conhecida). “O Praia de Faro”, da empresa de camionagem António Evaristo dos Santos, o “Ria Formosa”, o “Isabel Maria” do Mestre Cantiguinha, o “Gavião” e o “Alegria”, estes dois do “Chico Alemão”.


E, voltando à direita, deparávamos com o pavilhão da praça do peixe, tendo atrás o apeadeiro das “Portas do Mar”; encostados à muralha as barracas de roupa e quinquilharia com a central eléctrica em frente. Logo a seguir entrávamos no pavilhão da praça, pavilhão fechado, com os talhos e lugares fixos de verduras e frutas. Saíamos da praça e apreciávamos o mercado ao ar livre, tendo à sua direita, encostados à muralha, as Finanças com a sua escadaria íngreme, alguns armazéns de marisco e venda de isco para os pescadores desportivos.


À esquerda a ponte da CP que dividia a Doca da Ria, ponte rotativa, que se abria no intervalo da passagem dos comboios para que as barcaças de carga, encostadas ao cais, pudessem sair e entrar.


Ao fim do mercado ao ar livre, antes do Jardim Manuel Bívar, os vendilhões da “banha de cobra” e um outro que colocava os seus artigos sobre uma esteira, e gritava com as mãos em concha:


- “Erva bicha! raiz da abrótea!, areia para arear! Cágados!


Dava piada porque a areia era para as senhoras limparem os tachos e não os cágados…


E, no Jardim Manuel Bívar, ao fundo, junto e em redor do coreto, os engraxadores e, de vez em quando apareciam algumas figuras típicas como o “Cuco” com a sua malinha cheia de rótulos colados, o “Zezinho dos Cães”, com eles atrás, o “Menino Chico” com as suas castanholas, o “Toquim”, que tinha como hotel as barcaças e dizia que era um “galã do cinema” depois de, lá ao fim do “espaldão” e junto da Capela de S. Luís, ter colaborado na rodagem do filme “Um Grito na Noite”, dando um grito ao pé de uma grande fogueira, a arder em frente da Capela; o “Arpanço” que fazia recados e transportes com uma carreta de mão e que, com uns copitos a mais, deixou-se dormir com uma perna sobre a linha do comboio e só acordou quando o comboio a decepou; a “Maria das Bananas”, baixa, atarracada, pernas arcadas cabeludas, bigode farfalhudo, pés grandes, corria a cidade com o cesto sobre a anca seguro pelo braço, matraqueando com os chinelos na calçada; parava, punha a cesta no chão, e gritava o seu “pregão”:


- Éééé!... Sóóóó!... Cinco tostões a banana!; Alcagóitas torradas!


Os “moces” metiam-se com ela e, da sua boca desdentada, saiam todos os impropérios e corria atrás deles com um pau, que trazia no cesto.


Voltemos ao circuito e, saindo do mercado, sempre ao redor das casas encostadas à muralha, o Governo Civil e, logo a seguir, a porta principal da cidade, o “Arco da Vila” com o seu relógio lá no alto, o hospital e a Igreja da Misericórdia em frente. Logo a vidreira e em frente, junto da muralha, a esplanada do cinema. Seguindo, e dando a volta, lá estava o “palácio do Belmarço”, ainda lá se encontra a decompor-se. Depois passamos pela “Porta do Repouso”, (“Arco do Repouso”) e entramos no Largo de S. Francisco. À esquerda o refeitório económico, a Igreja de S. Francisco e o Quartel de Infantaria 4. Junto da muralha alguns armazéns em que um deles, de barcos, íamos encontrar o “Coelhinho”, grande atleta em argolas, fazia o seu espectáculo para a malta apreciar. E, para finalizar este circuito, ao fundo o apeadeiro de S. Francisco, a passagem de nível sem guarda, PARE, ESCUTE, OLHE, para dar passagem para o cais do Neves Pires e para as salinas.


Espero que tenham gostado de memorizar e recordar, a cidade exterior, em redor da muralha do castelo e… nos anos 30/40…




NOTA:- A cidade de Faro foi elevada à categoria de Cidade, no dia 7 de Setembro de 1540, por El-Rei D. João III, pela seguinte razão: “O lugar é sadio e abastado, está no meio do Reino do Algarve e muito a propósito de nele poder estar a Sé”


Inté


Alfredo Mingau

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