quarta-feira, 18 de novembro de 2009

RECORDAÇÕES DE UM COSTELETA


RECORDAÇÕES DE UM COSTELETA


MEMÓRIAS DO 1º DE MAIO
por João Vitorino Mendes Bica



A leitura do blog “os costeletas” tem tido a virtude, entre outras, de rebuscar no baú do passado e trazer ao consciente memórias que o tempo já tinha preterido. Uma delas respeita ao dia 1º de Maio.



Com o enquadramento político vigente, o 1º de Maio era o dia do estudante. Em meados da década de cinquenta, alguns de nós costeletas encontrámos uma forma de comemorar “condignamente” esse dia, começando por ir á Escola sim, mas não às aulas. Não me recordo de todos os que constituiam o grupo, que era aberto a quem quisesse alinhar mas recordo-me do Neto Firmino, do Joaquim Marcos Gregório, do Zé Maganão, do Sares Reis, dos eternos rivais o Rodrigues e o Santa Luzia, entre alguns mais.



Da maneira que cada um pudesse, ao longo do ano construíamos um mealheiro para no dia de Maio nos divertirmos. O meu esquema de poupança era simples: com os cinco escudos que recebia para o almoço na cantina da Escola, de vez em quando baldava-me, ia á padaria da esquina junto ao tio Felizardo e comprava um pão saloio a meias com outro colega. De seguida o tio Felizardo se encarregava de encher o meio saloio com as cavalas de conserva e, com mais um copito (pequeno) de vinho, estava feito o “almoço”. Nestes dias o almoço incluia uma prática errada mas, diriam os psicólogos, necessária à aprendizagem da vida: o almoço terminava com um dos três cigarros “três vintes” que o tio Felizardo nos vendia por cinco tostões. Poupava quinze tostões e assim ia construindo a minha contribuição para o mealheiro.



Na manhã do dia de Maio, com o dinheiro que tinhamos juntado, comprávamos uma garrafa de “bebida fina”, geralmente anis escarchado e vários bolos e outros componentes mastigáveis e lá íamos nós, o grupo do Maio, pela rua fora junto á Alameda João de Deus, para as salinas. E ali ficávamos, comendo, bebendo, conversando, rindo (geralmente muito a partir de certa altura) numa amena e divertida cavaqueira com temas de conversa que já não me recordo mas que não deveriam andar longe do que eram as conversas de jovens de 15, 16 anos, isto é, futebol, miúdas, escola (pouco, que o dia era de diversão).



Quando já não havia mais nada que comer e beber, começavam os planos sobre o que fazer com o dinheiro que havia sobrado. Geralmente a conversa era curta porque terminava invariavelmente com um passeio de visita às salas de bilhar da baixa de Faro, o Acordeon e.... o outro não me lembro. Era geralmente neste que ficávamos. Aguardávamos bilhar livre ou, se já houvesse, davamos início á jogatana que nos levaria até á hora de cada um rumar a suas casas no transporte que normalmente utilizava de forma que pudesse chegar a casa à hora habitual. Nada podia falhar. Se não houvesse bilhar vago, ficávamos deliciados observando a mesa de snooker onde invariavelmente nesse, como noutros dias, dava espectáculo um dos melhores jogadores de snooker ou bilhar às três tabelas, que por ali vimos passar: o Filomeno Sebastião Boinho. Recordo-me de outro bilharista que por ali também parava e atraía a nossa atenção: o José Luís da luta livre que não era grande jogador mas atraía a nossa atenção por ser grande noutra arte que preenchia o imaginário de jovens da nossa idade.



Voltando ao nosso bilhar e às condições em que era jogado, era frequente o taco “espirrar” ou as bolas saírem da mesa, mas nunca rasgámos um pano.



E assim íamos comemorando o nosso dia de Maio. No dia seguinte tudo voltava ao normal. As aulas, os intervalos com os jogos de tabuínha com medo do contínuo sr. Armando, as chamadas ao quadro, os exames escritos, o sofrimento antes de conhecer os resultados , enfim, a normalidade que ajudou a formar os homens e mulheres de hoje.



Esta era uma ESCOLA. Onde imperava a normalidade e o respeito (a Escola tinha um Director; sabia-se quem mandava). Onde imperava a preocupação de alunos e professores com o futuro dos discentes e o êxito dos docentes porque, o êxito destes, era a garantia de um melhor ensino e de um melhor futuro para aqueles.



Por isso ficaram com nome na história a Tomás Cabreira, a Machado de Castro, o Pedro Nunes, a Fonseda Benevides e outras.



Mas isso eram as escolas do passado!



Publicação de
João Brito Sousa

Nenhum comentário:

Postar um comentário