quarta-feira, 18 de novembro de 2009

AO TELEFONE COM O COSTELETA



AO TELEFONE COM O COSTELETA

DIOGO COSTA SOUSA

O Diogo é um amigo já dos tempos da primária em MAR e GUERRA Andava um ano atrás de mim, por ser mais novo, mas tivemos sempre uma boa relação, apesar de nos termos “despassarado” um pouco por questões profissionais, pois cada um seguiu o seu caminho.

Todavia, ainda deu para me aperceber que era um rapazito bem comportado e bom aluno. E as colegas diziam que tinha um sorriso bonito. Não percebo nada disso mas acho que sim. Pelo menos tenho-o na conta de um grande homem. E trata-me por amigo desaparecido e reencontrado. O que me sensibiliza muito.

Telefonei-lhe (001 301 385 04 27) e disse- lhe,

DIOGO, recorda aí uma cena da Escola.

Da primária, em MAR E GUERRA, recordo a professora claro, a D. Helena, que foi a nossa primeira grande mestra, a quem, aqui aproveito para homenagear pelo seu grande talento para o ensino e ainda pela grande paciência que tinha para nos aturar.

Recordo o meu parceiro de carteira, o hoje Eng º Bernardo Estanco, que chegou à Escola vindo de Marrocos e vinha sem boina na cabeça o que estranhámos.

Recordo que eram da minha classe o Miguel Damasceno, o Zé Louro, o Zé Duarte Martins Baptista, o Joaquim Rafael, todos costeletas mais tarde.
Mas o que me calou mais na escola primária, foi a injustiça que verifiquei haver, pelo facto de uns poderem continuar a estudar, como eu e outros, e haver alunos com potencial que ficaram por ali., como Maria de Jesus Lopo e o Júlio do Bate Cú.

Da Escola em Faro, recordo aquela cena do Ferro, quando foi fazer a demonstração do torno, trocou as voltas à máquina e uma peça saiu disparada e ia matando a Drª. Cândida, que tinha sido convidada para assistir à demonstração.

A tua infância?.

Boa. Nada a apontar e não me queixo de nada. Venho das hortas com muito orgulho. Os Diogos são um ramo enorme, gente de bem, modéstia à parte. O meu Pai trazia três hortas em exploração. Vivíamos bem.

Coloco num patamar um bocadinho mais alto, na família, o meu tio Alfredo, que era poeta e um neto dele que é Juiz na Comarca de Olhão

Ponto negativo foi o falecimento do meu Pai com 42 anos. Era um homem inteligente, ia às feiras, comprava e vendia gado e tinha uma grande capacidade de liderança para dirigir o pessoal na actividade agrícola.

Sementeiras, ainda te lembras disso?

Para o gado, semeava-se os trevos, as luzernas, o centeio e o milho, que depois das ajudadas era desfeito na máquina do Amorim, ensacado e vendido no Grémio em Faro, a preços desgraçados como o Parnassa fazia em Angola. aos agricultores locais, Do milho ficava algum de fora, que servia para engordar os 3/4 porcos que se matavam em Dezembro.

E depois eram hortaliças, couves rábanos, rabanetes, nabos, batatas e coisas assim, que a sogra do polícia que morava nas Pontes de Marchil, ao pé do António João, ciclista e ao pé do caiador também, vinha buscar à nossa casa.

As batatas tinham duas épocas de semeadura; em Janeiro e Setembro, em Março semeavam-se as alcagóitas e as cenouras.

Funcionavas bem dentro desse mecanismo?

Sim, mas havia um senão. Quando era da matança do porco aquilo era o diabo. Matar ... não é o forte. Como diz o Sérgio Godinho, de matar não gosto muito saudades é diferente. No dia da matança ia para a casa da minha avó e vinha oito dias depois. Mas era uma época difícil, porque eu sou muito sensível. Ainda hoje não piso uma formiga. Passo ao lado, como fazia um velhote que conheci em Santa Bárbara de Nexe, a quem chamavam o Cabinho da Mó, por ser muito baixote.

Onde passaste a tua juventude?

Senhora da Saúde e Pontes de Marchil, onde o meu Pai tinha as hortas.

Lembranças desses tempos. Pessoas que por algum motivo te recordes?

Joguei ao berlinde com o Jorge Albriquoque e o Vergílio Canzil, sou do tempo dos costeletas Anselmo e o Jorge, do Ernestino do Carlos Alberto, do Tatina, do Rocha e do Zé Domingos do Montenegro e de muitos outros.

Das pessoas já feitas, admirava o Toíca Guerreirão, grande negociante de gado, que todos os dias de manhã ia à venda do Senhor Viriato comprar um maço de cigarros Português Suave com uma nota de mil escudos. Era um tratado...

Momentos altos e baixos na tua vida?

Altos tenho alguns, como por exemplo, o dia em que Meninha me aceitou como namorado, outro quando casámos e outro quando nasceu o meu filho. Momentos baixos quando os meus pais faleceram. Foram ainda momentos altos, as corridas de mota com o Xico Contreiras e o Horácio Santos e no fundo, toda a juventude...

Os bailes no Parragil.. a Mondial, o pull-over vermelho e o polo preto na rua de Santo António.

Um grande amigo?

Tenho alguns. O costeleta Rabeca é um grande amigo. Tenho provas disso.

Algum motivo especial?

Fizemos a tropa juntos nos Açores, nos Arrifes, no BI 18 e fizemos lá uma equipa extraordinária. Entendemo-nos bem. Como em Angola me entendi bem com o Ribeiro de Évora e com o Ludgero Gema. E cá com o Manel Lima, e o Vieira da Silva de Quarteira, os Gabadinhos e mais alguns.

Os teus irmãos?

É boa gente. Somos três e damo-nos bem. Aproveito para lhes mandar um abraço.

A tua vida hoje?

Está bem e recomenda-se. Tive a sorte de ter tido sempre uma grande mulher a meu lado. Estou a referir-me à Meninha, a minha mulher. Dizem que ao lado de um grande homem está sempre uma grande mulher. No meu caso diria, que tenho ao meu lado uma grande mulher. Respeitamo-nos e o resto vem por acréscimo.

Depois tenho a família do meu filho que é a minha descendência da qual me orgulho muito. Não posso pedir mais nada.

Voltar à Senhora da Saúde?

Vou ao almoço dos costeletas a 8 de Junho em VILAMOURA. Vou para ver a malta e dar um grande abraço no velho, o SOUSAFARIAS.

E como gostarias de terminar esta entrevista?

Com um soneto teu, que sei que tens muito jeito para isso.

Então aí vai.

A ENTREVISTA.


O tempo que consumi no preparo
Desta conversa que contigo mantive
Só me prova que és um amigo caro
Daqueles poucos que até agora tive ...

A tua sensibilidade impressiona!...
A tua honradez é bastante notada,
A conversa teve o sabor da anona
E por isso, amigo, vai ser publicada

No blogue da Escola.. para se saber
Que tu ainda existes e gostas de viver
Esse aspecto é claro e salta bem à vista!...

E daqui te mando um abraço e agradeço
A amizade que nestes versos que te ofereço
Senti teres por mim ao longo da entrevista.

Texto de
João Brito Sousa

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