segunda-feira, 16 de novembro de 2009

O ESTABELECIMENTO COMERCIAL FELIZARDO E GLORINHA

O ESTABELECIMENTO COMERCIAL
FELIZARDO & GLORINHA

Quando eu cheguei a Faro em 52 o estabelecimento comercial FELIZARDO & GLORINHA, já lá estava instalado de armas e bagagens na rua da PSP, como veio esclarecer agora o Luís Cunha.

O estabelecimento era dividido, se bem me lembro, em duas áreas comerciais, uma de mercearias e outra, digamos assim, de comes e bebes.

Além de toda a clientela do bairro, havíamos nós, os alunos da Escola Comercial e Industrial, que consumíamos da zona dos comes e bebes, as célebres sandes de atum, de cavala e de outros.

Para nós, a designação do estabelecimento era indiferentemente chamado de estabelecimento do Ti Felizardo ou o estabelecimento da Ti Glorinha. Dizer vamos à do Ti Felizardo ou dizer vamos a da Ti Glorinha era a mesma coisa.

Todavia, em termos de carinho recebido da parte do patronato, a D. Glorinha era como se fosse a nossa mãe, sempre atenta à nossa estadia ali, sempre preocupada com o que nos pudesse acontecer na cidade, sendo que, esta atenção, era mais direccionada para os montanheiros, como eu e éramos muitos, que não percebíamos nada do que era a Escola nem o que era a vida na cidade

È claro que faziam lá o seu negócio, como faziam também o senhor Manuel dos bigodes e o Coelhinho, que lá iam vender sorvetes e pinhões e um tipo de Olhão, que ia lá vender ratos, um rebuçado grande feito à base de mel, que a gente gostava muito.

Mas na loja da Ti Glorinha é que era bom e a gente ia lá tratar da nossa saúde. Comíamos umas sandes, bebíamos qualquer coisa e toca a andar.

Ainda hoje, falando com os alunos da Escola do meu tempo, quando nos encontramos, lá vem sempre uma referência de saudade das sandes da TI GLORINHA e do TI FELIZARDO.

Por isso tudo, o que quero realçar nesta crónica é o acolhimento que nós recebíamos dessas pessoas, digo FELIZARDO e GLORINHA, que antes de serem comerciantes eram seres humanos e que igualmente nos tratavam como tal A nossa vida estava mais facilitada com a sua presença no terreno. Em caso de necessidade nós sabíamos que eles estavam lá.

Não é porque nos emprestassem dinheiro a juros, não é porque nos vendessem as sandes fiado, não é porque os fizessem descontos nas encomendas ... nem por quaisquer outras milhares de razões... Nada disso.... nada

Nós íamos à do Ti FELIZARDO porque dos proprietários deste estabelecimento recebíamos... tão só... um pouco de carinho e amor ou seja, um pouco mais de calor humano... que foi muito importante para todos nós, que nos estávamos a iniciar na complicada caminhada da vida.

Agora que já terminei esse percurso e estou reformado, quero dizer-lhes muito obrigado Ti FELIZARDO e TI GLORINHA.

É a minha opinião e recordo-os com saudade.

Estejam lá onde estiverem, aí vai para eles, um ALABI... ALABÁ... BUM.. BÁ....que era o grito dos costeletas lá da Escola Comercial, onde aprendemos os rudimentos do Comércio ou os rudimento da Indústria.

Mas o outro aspecto da vida, começámos a aprender no TI FELIZARDO.

O que é que queres?

Cinco tostões de cigarros, Ti FELIZARDO.

E lá vinham três Hight Life, ou três Três Vintes, ou três Paris, que eram as marcas de tabaco mais populares desse tempo.

Eram outros tempo.

Agora já não fumo mas o estabelecimento ainda lá está, gerido agora por um neto, a quem peço o favor de honrar a memória dos avós.

Respeitosamente

ATÉ SEMPRE, LUÍS*
Quando parte um homem digno e bom, é toda a humanidade que o perde. Luís Cunha foi um desses homens. Sem ele, todos nós - familiares, amigos, conhecidos e desconhecidos – ficámos mais pobres, mais sós, ainda que só alguns o saibam, o sintam; ainda que só alguns o chorem. E estes com acrescida mágoa se não chegaram a dizer-lhe “Obrigado, e até sempre”.
Resta-nos o Luís que guardamos na memória. Mera e efémera lembrança, dir-se-á, que já não o toca, o sensibiliza, que pouco, nada, lhe levará de nós. Mas recordá-lo é muito mais do que saudade. É continuar dele recebendo o que já não pode dar-nos; é também o fazermos por nós mesmos o que ele por nós sempre fez.
Íntegro, inteligente, culto, um pouco tímido mas afável, Luís Cunha foi um cidadão como poucos. Homem de pensamento e prática humanista, amante da sua cidade, do seu Algarve, do seu país, foi um fiel guardião da Liberdade, um promotor da cultura e um defensor do progresso humano em todas as suas vertentes. Não há muitos homens assim nos nossos dias. Fica pois o seu exemplo de aposta no futuro, naquele futuro que muitos persistem em rotular de utopia, mas que é desejável e possível e urge edificar enquanto é tempo.
Até sempre, Luís. Norberto Cunha
* Este escrito, oportuna e aparentemente enviado a “O Costeleta”, não lhe chegou, devido a um problema no meu computador, só muito depois detectado.

È ESTA PEQUENA HOMENAGEM QUE QUIS PRESTAR AO AMIGO LUÍS CUNHA..
João Brito Sousa

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