terça-feira, 17 de novembro de 2009

DO CORREIO


DO CORREIO


Paixão Pudim


Do nosso associado Costeleta Paixão Pudim recebemos, pelo correio normal, a carta que transcrevemos na íntegra.


Recordações e Casos da Vida Real de um Costeleta Aposentado
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...Finalmente, vou aposentar-me a lOO%... isto e, deixei os "biscates”
... 0 Ultimo, levou-me ao Parque das Nações... e, nem de propósito, aproveitei para recordar a Expo 98, rever o Pavilhão do Conhecimento dos Mares aonde estive envolvido. Foi muito bom recordar o que lá passei... e, durante a contemplação do agora Pavilhão das Ciências, encontrei, por casualidade, numa obra próxima, o encarregado Manuel que, há 18 anos atrás, estivera comigo na construção do Edifício da Marconi em Linda a Velha, Oeiras. Com este algarvio de são Bartolomeu de Messines passei por períodos de grande azáfama, muita res­ponsabilidade e alguns "apertos"

"Racismo Nunca"

Hoje, vou recordar um episódio quase incrível de aceitar... mas verdadeiro e, nada tem de racismo... apenas consequência do sistema social envolvente.
Decorria o ano de 1990 e a Marconi necessitou ampliar o Edifí­cio das Telecomunicações Intercontinentais. Foi uma obra de extremo rigor com planeamentos cumpridos “religiosamente”. Todas as activi­dades estiveram sempre superiormente controladas e os prazos de execução cumpridos até á exaustão. Tudo muito bem programado.
A obra decorria favoravelmente quando sucedeu um imprevisto já na fase final. - Umas portas de correr, de grandes dimensões, blindadas, com isolamentos acústicos, fechos automáticos, destinadas a dividir as salas de controle em casos urgentes ou especiais, vinham de Itália. Há ultima hora alteraram a entrega via terrestre por via marítima com chegada ao porto de Leiõees e, consequentemente, o transporte em camião Tir até Lisboa. Tudo isto resultou atraso de uma semana. Para cumprir o planeamento previsto tornou-se complicado solucionar este contratempo.
Havia uma data determinada para a chegada de engenheiros japoneses especialistas em electrónica. Exigiam completo silêncio, por conseguinte, os ruídos provocados pelos trabalhos da obra teriam que acabar na véspera da intervenção deles. As datas coincidiam e por isso, mandou-se um Fax para Tóquio a comunicar a situação e pedindo a chegada dos engenheiros para 5 dias depois da data prevista.
A resposta foi imediata, nestes termos: - Impossivel satisfazer vosso pedido. A nossa agenda esta completa para os proximos dois anos.
Depois de Portugal registamos compromissos com países da América Latina, Norte da Europa, ainda Médio Oriente e, só depois, Lisboa.
Tudo isto complicava-se ainda mais porque estava em preparação um grupo de engenheir9s portugueses, admitidos por concurso Nacional, estagiários, para receberem formação especifica dos engenheiros nipónicos. Determinou-se uma reunião urgente, na qual foi decidido concluir a obra o mais rapidamente possível B a necessidade de organizar os turnos de 24 horas...uma aflição!...
Para se compreender bem, toda a situação. Devo acrescentar que nesse ano de 1990, 80% do pessoal eram africanos, principalmente de Angola e Cabo Verde e, também alguns negros de Congo ex-Belga.
Houve necessidade absoluta de ganhar tempo e, para isso, iniciou-se por desmontar o estaleiro e retirar todos os materiais sobrantes... A. grua giratória estava a trabalhar num circulo de 50 metros com desníveis acentuados e trabalhadores por baixo em zona perigosa... 0 que era preocupante. Tudo muito à pressa... material a desprender-se e a cair de alturas consideráveis. 8egurança péssima sem os devidos cuidados. Um perigo iminente!
Observei tudo isto quando cheguei pelas 8 horas ao parque de estacionamento... fiquei estarrecido pela forma como estavam a decorer os trabalhos... a segurança dos trabalhadores não estava a ser respeitada. Mandei suspender toda a actividade, chamei o sr. Hanuel, o encarregado algarvio, conhecido por “desenrascado”... e gritei: - Como é possível trabalhar nestas condições... - Tem consciência do que pode acontecer?... resposta do encarregado: - Sr. Paixao, tenha calma e não fique chateado. Não vai acontecer Nenhuma desgraça. - Tomei as minhas precauções. Logo repliquei: - como assim, explique-se? – Está tudo sobre controle. Como vê, lá em baixo , naquele raio de ação da grua, nas cargas e descargas, só estão a trabalhar três homens "brancos” - Se cair algum material do balde da grua e atingir com fatalidade algum trabalhador branco, isto é, se morrer, ninguém vai ao funeral e a obra não pára.
- Se estivessem trabalhadores negros e acontecesse a mesma desgraça a situação seria bem diferente: - "Todo o mundo” ia ao funeral... primeiro dia perdido... depois a missa do sétimo dia, nenhum negro falta e seria o segundo dia sem trabalharem... a obra atrasava-se irremediavelmente. - Como vê tomei todos os cuidados possíveis para a obra não parar. – Estou certo ou estou errado?!...
Fiquei sem fala!... Felizmente, tudo se recompôs e as tais portas herméticas, foram colocadas nos dois fins-de-semana seguintes... mas fiquei a meditar. - Como é possível esta realidade nua e crua!...
Nota cor de rosa Um dos engenheiros nipónicos “arranjou” tempo para apaixonar-se por uma engenheira estagiária, alfacinha de gema, e hoje vivem em Tóquio.
As voltas que a vida dá!... Este caso, não estava programado e muito menos no planeamento.
Paixão Pudim

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